segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A Gruta do Frade

…e o 11 de Setembro de 2001.
Já lá vão uns anos sobre a descoberta deste singular tesouro. Passado este tempo, olhando para trás, posso dizer que foram tantas as histórias vividas durante a sua exploração efectiva que, quando delas me recordo, ainda sinto uma carga emocional que é difícil de exprimir.

Foram ao longo de quatro anos (1999-2003), desde o inicio dos meses de Maio até aos finais dos meses de Setembro de cada ano, muitas horas e muita emoção a explorar uma rede subterrânea com salas e galerias cada uma mais encantada que a outra.

Exploramos mais de uma vintena de salas com dimensões generosas, forradas por formações calciticas que não havia, e ainda não há, no património cavernícola português. Tudo isto estava, até então, inacessível a qualquer ser humano.


Foram ao fim desse tempo, mais de quinhentos dias e quinhentas noites debaixo de terra, foram muitos verões em que os nossos amigos, à superfície, não nos viam em lado nenhum mas aguardavam as nossas notícias. Foi uma imensa ida ao paraíso na terra por nós conquistado, foi um grandioso estado de alma que nos fechou num mundo, para nós, perfeito.


Ao longo desses quatro anos, nos meses referidos, a nossa equipa entrava na caverna quase sempre às segundas-feiras e só voltava a ver a luz do dia na sexta-feira seguinte. Durante esses dias estávamos totalmente incontactáveis, em regime de auto-suficiência e, do mundo lá fora, só tínhamos actualizações quando chegávamos ao ponto de partida, no porto de abrigo de Sesimbra.

Na segunda-feira do dia 11 de Setembro de 2001 aconteceram os atentados suicidas nos Estados Unidos, e nós, tínhamos entrado na gruta às 09:30h. Só voltamos a sair na sexta-feira seguinte e, sobre este acontecimento que marcou e mudou o mundo, só soubemos do sucedido em casa, pela televisão, quatro dias depois!























































































Video Momentos na Gruta do Frade.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Gouffre du Trou du Vent de las Goffias, França.

É uma gruta muito bonita e de acesso relativamente fácil, como as que existem na serra da Arrábida. Com cerca de 95m de profundidade tem uma das formações mais espectaculares que já vi em terras gaulesas: o Monumento. Trata-se de uma enorme estalagmite com cerca de 3m de raio por 15m de altura.

França e os franceses não se podem queixar da qualidade do seu património subterrâneo assim como dos seus exploradores e não é por acaso que eles marcam bem a diferença em relação aos seus colegas europeus.

Não digo isto por serem eles os pioneiros e percursores da espeleologia moderna, mas pelo admirável empenho de dar à espeleologia técnico/científica e seu merecido lugar de destaque.

Ao longo de mais de cem anos são deste país o maior número de nomes e de referências que contribuíram e contribuem, muitas vezes de forma anónima, para o conhecimento das ciências subterrâneas. Muitos tem hoje estatuto de lendas tal é o reconhecimento que os espeleólogos actuais lhes atribuem, outros, são-lhes dispensados tais reconhecimentos que são tidos quase como deuses.

Encontramos também aqui nesta recatada gruta, como em muitas outras desta região, uma sala com o nome de um deles “Martel” e, não foi que me parecesse mal, mas fiquei a pensar: - mas porquê sempre Martel… então e os outros?


quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Férias, pois então!

Madeira 2009

Depois de um ano pleno de intensidade subterrânea rumámos até terras madeirenses que não sendo propriamente virtuosas em grutas é, em paisagem de montanha, um dos melhores quadros nacionais. A sua floresta laurissilva classificada pela UNESCO em 1999 como património da humanidade, por aí se encontrar a maior e mais bem conservada mancha, veste-lhe bem a orografia.








Sente-se natureza na Madeira, as formações geológicas, as associações vegetais, a fauna presente e as marcas humanas de um passado muito pouco distante estão aqui ainda em quase perfeita simbiose.
Existem muitas maneiras de se abordar, pela primeira vez, a ilha na sua versão mais naturalista sem se ser propriamente um turista clássico, do caminhar por caminhar, do ir ali porque se foi ali. Quando chegamos só sabíamos que íamos ver a ilha (arquipélago), pois a informação que tínhamos colhido era um pouco escassa. Sabíamos de antemão que devíamos ir ali ou acolá porque amigos nos tinham sugerido, mas não há nada como improvisar no próprio dia!

Adquirimos um guia de veredas e levadas disponível nos centros turísticos, com base neste traçamos os nossos percursos por essas paisagens naturais deslumbrantes, medimos a hora de chegar fazendo estimativa aos quilómetros que vinham pela frente e, uma máquina fotográfica, uma câmara de vídeo, um par de botas, pernas e vontade fizeram o resto.


Madeira 1ª Parte.




Madeira 2ª Parte.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O Tempo do Risco

Carta Arqueologica de Sesimbra

O CEAE-LPN orgulha-se de ter participado activamente neste projecto, nomeadamente na identificação de sítios arqueológicos, tanto à superfície como em gruta: o conhecimento de campo e do meio subterrâneo da cadeia da Arrábida posto à disposição dos coordenadores do projecto liderado pelo Prof. Dr. Manuel Calado, resultou na identificação de 27 grutas com espólio arqueológico, onde se destacam a Gruta do Sono, Lapa do Jerónimo, Lapa dos Corvos, para além de artefactos inéditos como foi exemplo a célebre tábua árabe, descoberta já na fase final do projecto.

Foram dois anos que fizeram deste projecto um bom exemplo de parceria entre entidades e investigadores de áreas bem distintas, em que a espeleologia teve a oportunidade de trazer valor acrescentado. Um caso de sucesso.

A acção de campo de toda a equipa foi sendo registada em fotografia que se encontra agora exposta, em grande formato, na Avenida 25 de Abril em Sesimbra.
























FICHA TÉCNICA
Organização
Câmara Municipal de Sesimbra
Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa

Texto
Luís Jorge Gonçalves

Fotografia
Ricardo Soares

Design
Raquel Santana

Coordenação e edição
Gabinete de Informação
e Relações Públicas da CM Sesimbra

Apoio
CEAE/LPN

Impressão digital
Écranvia, Ld.a

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Gouffre Berger, França.


A Gouffre Berger é tida como o abismo mais bonito dos Alpes franceses. A sua entrada situa-se a 1460m de altitude, perto da povoação de Engins, na região de Vercors.

É uma daquelas grutas míticas que sempre tive vontade de conhecer e que sempre me mereceu um respeito um pouco tenebroso. Sempre ouvi contar histórias sobre ela, mortes que aconteceram devido ao aumento súbito da água, da imprevisibilidade do tempo à superfície e da sua temperatura que ronda os 3ºC.

Para mim foi provavelmente a gruta que me causou as sensações mais estranhas. Saber que estas coisas aconteceram, que vidas foram aí ceifadas em ambiente de autentico terror e passar pelos locais, ver as lápides improvisadas que os colegas deixaram, foi sem dúvida uma sensação que não esquecerei.

Mas também é verdade que se trata de uma caverna muito bela, é tida por muitos como os -1000m mais fáceis de se atingir e uma das mais clássicas cavernas mundiais; foi aqui que se alcançou pela primeira vez a profundidade de -1000m, um feito extraordinário já que na época (década de 50) os meios de exploração eram rudimentares comparados com os de hoje.

História da Exploração: http://latronche.free.fr/berger.html#histo

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Gruta de Loferer Schacht, Áustria.

Expedição 2009

Ao fim de quase onze anos de grutas, vivi a minha primeira experiência de Expedição espeleológica de carácter Internacional que visou a continuação da exploração da Gruta de Loferer Schacht, nos Alpes austríacos, iniciada por espeleólogos polacos há cerca de 30 anos atrás.

A 08 de Agosto iniciamos a nossa longa marcha de aproximação ao longo de um dia, desde a localidade de Loferer na base da montanha, até atingirmos o vale de Grossewehrgrube encaixado entre os montes Reifhorn a Norte e o Ochsenhorn a SW, a 2200m de altitude.

A equipa foi chegando aos grupos ao local estafada da subida e do peso que cada um carregava às costas; no fim, reunidas as três nacionalidades dos exploradores, alemães, checos e portugueses, foi montada a base de superfície que serviria de apoio ao longo dos seguintes seis dias.

No dia 09, logo às 9.30h, começaram os preparativos de logística para o ataque à gruta tal como a distribuição de objectivos. Houve 4 equipas, uma que ficaria à superfície e que estaria em comunicação com o grupo através de um sistema de mensagem “Cavelink”, e as outras três que iriam efectivar os objectivos dentro da gruta, referentes a topografia, desobstruções, exploração, novas equipagens, manutenção de cabos, recolha de dados de temperatura, humidade, velocidade do vento, inventário e recolha de imagem de vídeo.

Entramos pelas 16:00h em grupos separados onde nesse dia apenas se pretendeu alcançar os bivaques, designados de Terminal 1, Garten Für Die Harten e Waldstadion, a cerca de -430m, -570m e -530m.

A minha equipa depois de trocar uns cabos pelo imenso percurso descendente, pernoitou no 1º bivaque e no dia seguinte, pelas 11:00h, retomou a actividade. Esperava-nos uma grande sequência de poços com água que teríamos de evitar, mas mal tomámos a iniciativa de partir, um estrondoso roncar de águas foi aumentado de volume. Era a indicação que se tinha abatido uma tempestade à superfície e só eram necessários cinco minutos para que uma forte massa de água atingisse esta profundidade. Esperámos duas longas horas para senti-la a diminuir e só então, sempre alertas, conseguimos vencer a descida até ao 2º bivaque. Foram cumpridos todos os objectivos propostos e ainda descobertos novos espaços pela equipa do Pedro Pinto, Timóteo e Bernd. A equipa dos checos Petr e Zdenek também alcançou grande êxito ao descobrir um meandro e uma sala com mais de 200m de comprimento.

No dia 13, depois de dias em auto-suficiência, de muito frio nos pés e de cheirinhos entranhados nos corpos, a minha equipa deu inicio à subida. Um dia inteiro de enorme esforço para vencer uma interminável sequência de poços tecnicamente muito difíceis, até que finalmente se alcançou a luz do dia.


Topografia da Gruta Loferer Schacht.














Organização DAV Höhlengruppe, de Frankfurt am Main.

A Equipa de Bravos!


Alemanha;

Oliver Kube
Bernd Kahlert
Marvin Soldner
Robert Heinig

Portugal;

Pedro S. Pinto
Rui M. Francisco
Timóteo Mendes
Renato Serôdio

Republica Checa;

Petr Caslavsky
Zdenek Dvorak



Janela de momentos....