terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Abîme de Bramabiau, França.

A 9 de Junho de 2006 deslocamo-nos ao centro turístico da “Rivière Souterraine de Bramabiau” onde chegamos já fora de horas encontrando a recepção a fechar.

A senhora que fechava o centro deu-nos um pouco de atenção e tivemos a oportunidade de explicar que éramos espeleólogos e que tínhamos vindo de longe para ver o local histórico para a espeleologia mundial.

Foi-nos explicado que havia uma parte para o publico em geral, junto à ressurgência, e que os espeleólogos poderiam fazer a travessia subterrânea integral desde que previamente identificados.

Não perdemos a oportunidade e no dia seguinte devidamente equipados partimos para realizar a travessia. Entramos pelo sumidouro da felicidade, uma enorme entrada onde se podia ver restos de trocos de árvores presos a mais de cinco metros de altura devido às enchentes de Inverno.

Usando apenas um cabo que ia sendo recuperado à medida que progredíamos, encontramos uma rede activa com alguns pontos difíceis de transpor mas com menor ou maior dificuldade fomos avançando até que três horas depois, perto da saída, senti um flash de uma máquina fotográfica por cima de mim.



Achei estranho porque íamos todos perto uns dos outros e aquele flash parecia a mais, ao olhar para cima estavam várias pessoas debruçadas num corrimão a ver-nos como que de um espectáculo se tratasse.

Tínhamos chegado à parte turística sem darmos por isso e para mim nunca tal me tinha acontecido. Estava habituado ao solitário mundo subterrâneo, sem intrusão de pessoas nas nossas acções e agora parecíamos uns “macaquinhos” no jardim zoológico a ser observados…não deixou de ter a sua piada!

A travessia.




…um pouco de história.

Poucos lugares no mundo estão tão intimamente ligados à história da espeleologia como está Bramabiau.



Aqui em 1888, Edouard-Alfred MARTEL realiza a primeira travessia subterrânea, transformando para sempre este local numa espécie de “santuário”.

A rede possui actualmente mais de 10km de desenvolvimento e é visitada por espeleólogos do mundo inteiro.



Edouard-Alfred MARTEL foi o maior espeleólogo de sempre. A sua obra, extensa e fundamental, teve uma repercussão internacional tão douradora que, cinquenta anos após o seu desaparecimento, continua a ser referência essencial para milhares de exploradores ou simples visitantes das cavernas do planeta.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

A Gruta do Meio, Cabo Espichel.

A 2 de Setembro de 2007 identificamos uma pequena entrada na arriba Norte do extremo Oeste do Cabo Espichel. Após uma descida com auxílio a técnicas de progressão vertical, foi descoberta uma lapa com duas salas.

Depois da rectificação da equipagem de acesso à cavidade, dois elementos da equipa conseguem detectar uma estreita abertura no lado Este da segunda sala. Conseguindo lentamente progredir acabamos por descobrir a continuação da gruta.

Ao 3º dia a equipa concentra-se no local onde havia terminado a exploração na actividade anterior (zona mais a Este da gruta) e descobre uma pequena passagem estreita que os conduz, após alguma progressão semi-vertical, ao tecto de uma sala. Tomando as providências necessárias, acedemos a esta e descobrimos outras salas, uma rampa com forte inclinação que a leva a um sifão e sobre este um “minúsculo” buraco de onde se detectou circulação de ar.


Ao 4º dia preparamo-nos para começar a desobstruir a estreiteza sobre o sifão. Dada a proximidade deste com o mar, é influenciado pela maré. Na ocasião, a descida da maré revela outra estreiteza que não tinha sido detectada na actividade anterior. Após uma tentativa bem sucedida para passá-la é revelado um novo sifão e uma rampa ascendente, seguido de um conjunto de salas e vários espaços indicando continuação.


A equipa divide-se em dois para atacar duas zonas de exploração. Consegue-se uma segunda ligação à zona do primeiro sifão. Na frente de exploração mais avançada dois elementos conseguem progredir, por condutas fortemente inclinadas, mais de 50 m na vertical até se deterem numa estreiteza. Um dos elementos consegue passar e descobre uma das mais maravilhosas salas até aqui descobertas. Dá-se início aos trabalhos de topografia.


Ao 8º dia desobstruiu-se a passagem para as últimas salas descobertas onde foram identificadas novas possíveis continuações. Fim da primeira fase de exploração.