quinta-feira, 3 de julho de 2014

Património Subterrâneo da Arrábida Oriental XVI

Lapa do Médico II

Planta e Cortes

A Lapa situa-se a cerca de 200m de altitude desenvolvendo-se sob rochas sedimentares do Jurássico - J²p, com aproximadamente 150 Ma (Manuppella et al, 1999). Ocupa uma área estimada de 10m² e tem um desnível de -10,00m. O seu desenvolvimento principal estimado, em projeção horizontal, é de 6m segundo a orientação SW-NE.
A sua génese parece ter sido condicionada pela tectónica e pela fracturação a ela associada. De perfil semivertical, abre-se ao longo do bordo de uma escarpa de falha (Manuppella et al, 1999), parecendo a sua evolução em profundidade (endocarso) estar intimamente relacionada com as águas pluviais, coberto vegetal e manta morta, que fez aumentar o CO², determinante para a dissolução da rocha calcária e, consequentemente para o alargamento das fraturas aí presentes.
Aspeto da entrada
Não menos importante é o facto de a gruta se situar a uma cota inferior a 220m, aspeto que pode indicar que esta tenha sofrido com as variações dos níveis marinhos ocorridos, provavelmente, durante o pliocénico, aquando da formação da zona aplanada do Cabo Espichel, cuja aplanação parece corresponder a uma superfície de abrasão marinha (Ribeiro et al., 1987). Poderá, por isso, o mar ter contribuído para o alargamento da cavidade, uma vez que, durante a sua regressão lenta para os níveis atuais, a água doce carregada de CO² se teria depositado sobre a água salgada - devido às densidades - dissolvendo a rocha exposta e alargando as fraturas.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Património Subterrâneo da Arrábida Ocidental

Gruta do Coelho


Planta e Perfis
A Gruta do Coelho situa-se 115m acima do nível médio das águas do mar, na Serra dos Pinheirinhos, desenvolvendo-se sob unidades sedimentares do Jurássico Médio - J²p, com aproximadamente 180 a 160 Ma. (Manuppella et al, 1999). Ocupa uma área estimada de 107m² e tem um desnível máximo em relação à cota de entrada de -13,15m. A sua orientação preferencial é de 23º e o desenvolvimento principal estimado, em projecção horizontal, é de 50m segundo as orientações S-NE e NE-E.
É uma cavidade que se perfila em horizontalidade, constituída por três salas fortemente concrecionadas e visivelmente condicionadas pela tectónica. A sua evolução estará intimamente ligada à proximidade da estrutura do doma da Cova da Mijona. Este acidente tectónico caracteriza-se pela disposição arqueada das litologias, sendo que as estratificações apresentam-se de forma concêntrica, inclinando mais na proximidade do núcleo do doma diminuído para a periferia (Manuppella et al., 1999).

Arrábida; interpretações...

Serra do Risco

“…devido ao sucessivo resfriamento e consequente contracção do planeta que habitamos, a crusta solidificada, que desde a esfera central da terra ainda fluida chegava até ao fundo desse mar, encarquilhou-se como a pelle de uma uva que se secca, a ponto de fazer saliências acima do oceano e formar uma elevada ilha, de que a actual Arrábida não é mais doque um vestígio, comparável aos restos de altivo e grandioso monumento a que as injurias do tempo não tivessem deixado senão pequenas porções das suas arruinadas paredes”.

(António Inácio Marques da Costa, 1902).

terça-feira, 24 de junho de 2014

Património Subterrâneo da Arrábida Oriental XV

Gruta do Soprador do Monte Abraão

Planta e Cortes
 
A entrada da gruta situa-se a cerca de 206m de altitude desenvolvendo-se sob rochas sedimentares do Jurássico - J²p, com aproximadamente 150 Ma (Manuppella et al, 1999). Ocupa uma área estimada de 165m² e tem um desnível máximo em relação à cota de entrada de -20,00m. O desenvolvimento principal estimado, em projeção horizontal, é de 33m segundo a orientação SW-NE.
 
A sua génese parece ser muito condicionada pela tectónica e pela fracturação a ela associada, sendo que a sua evolução em profundidade (endocarso) ou carsificação, está intimamente relacionada com as águas pluviais, coberto vegetal e manta morta à superfície, que faz aumentar o CO² determinante para a dissolução da rocha calcária e para o alargamento das fraturas presentes.
 
Não menos importante é o facto de a gruta se situar a uma cota inferior a 220m, aspeto que pode indicar que tenha sofrido com as variações dos níveis marinhos ocorridos durante o pliocénico, altura em que o mar atingiu estas altitudes e foi responsável pela formação da superfície de abrasão marinha do Cabo Espichel (Ribeiro et al, 1987). Assim, e tal como nas outras cavernas situadas a cotas semelhantes, o mar, durante a sua regressão lenta para os níveis atuais, poderá ter contribuído para o alargamento da cavidade, uma vez que a água doce carregada de CO² se terá depositado sobre a água salgada devido à sua densidade - erodindo e dissolvendo as fraturas e rocha exposta, através de processos químicos e mecânicos.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Património Subterrâneo da Arrábida Oriental XIV

Lapa do Monte Abraão
 
 Planta e Cortes
 
 Situa-se a cerca de 362m de altitude e a cerca de 50m das “icónicas” três cruzes do Monte Abraão. Trata-se de uma cavidade semivertical, com uma orientação preferencial posicionada para SW desenvolvendo-se sob rochas sedimentares do Jurássico J1-2CL, com aproximadamente 160 Ma (Manuppella et al, 1999). Ocupa uma área estimada de 40m² e tem um desnível máximo de -11,00m. O seu desenvolvimento principal estimado, em projeção horizontal, é de 16m segundo a orientação NE-SW.
 
Trata-se de uma cavidade condicionada pela tectónica e pela fracturação a ela associada. Neste sentido, as águas pluviais, aproveitando os acidentes tectónicos, rapidamente se terão infiltrado para o interior do maciço rochoso exercendo aí enorme influência na dissolução e corrosão da massa calcária, originando o espaço hoje existente.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Património Subterrâneo da Arrábida Ocidental

A Gruta ou Lapa do Fumo
 
 
Planta e Perfis
 
A Gruta ou Lapa do Fumo é uma gruta classificada como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto-lei 28/82 e corresponde a uma utilização humana ininterrupta ao longo de cerca cinco milénios. (Serrão, 1978).
 
Situa-se a 208m acima do nível médio das águas do mar, na Serra dos Pinheirinhos desenvolvendo-se sob rochas sedimentares do Jurássico - J²p, com aproximadamente 150 Ma (Manuppella et al, 1999). Ocupa uma área estimada de 565m² e tem um desnível máximo em relação à cota de entrada de -9,55m. A sua orientação preferencial é de 308º e o desenvolvimento principal estimado, em projecção horizontal, é de 91m segundo a orientação SE-NW.
 
É uma cavidade de perfil horizontal composta essencialmente por uma grande galeria fóssil que segue a orientação dos estratos calcários. A sua evolução estará por certo intimamente relacionada com as águas pluviais, coberto vegetal e manta morta que fez aumentar o CO² determinante para a dissolução da rocha calcária. Para além deste factor clássico que acontece na maioria das cavidades calcárias, outro factor terá necessariamente de se ter em conta, uma vez que só por si, poderá ter condicionado a evolução geo-histórico da gruta: o mar.
 
Apesar do perfil da cavidade parecer ser simples, a sua génese pode corresponder a um processo complexo, uma vez que, estando situada a poucos metros abaixo da Plataforma de Abrasão Marinha do Cabo Espichel, poderá ter sofrido com as variações dos níveis marinhos ocorridos durante o pliocénico, período em que o mar se situou a estas altitudes (Ribeiro et al, 1987). Assim, o elemento marinho pode ter contribuído para a evolução da cavidade, uma vez que, durante a sua regressão lenta para os níveis atuais, a água doce carregada de CO² terá actuado, dissolvendo a rocha exposta e alargando as fracturas e juntas de estratificação que a gruta ocupa.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Património Subterrâneo da Arrábida Oriental XIII

Algar S. João do Deserto

Planta e Perfil

A Cavidade localiza-se junto ao bordo Sul da cabeça gorda - cabeço vizinho ao monte Formosinho, a Este - à cota de 421m. É uma cavidade do tipo algar - de desenvolvimento predominantemente vertical - que ocupa uma área estimada de 4,8m², possuindo um desnível máximo em relação à cota de entrada de -14,60m e um desenvolvimento estimado, em projeção horizontal, de 6m segundo a orientação S-N. Geologicamente encontra-se sob rochas sedimentares do Jurássico - J²p, com aproximadamente 150 Ma. (Manuppella et al, 1999).  

A sua génese parece ter resultado, primeiramente, de fenómenos tectónicos que geraram uma grande quantidade de falhas e outras fraturas geológicas. Os agentes geomorfológicos terão moldado o exocarso (superfície) gerando condições para que as águas pluviais se pudessem infiltrar na principal fratura que a gruta ocupa. Por sua vez, o húmus proveniente do coberto vegetal e os períodos frios que a serra atravessou, terão constituído fatores para que a água que atingiu o endocarso (interior), aí chegasse suficientemente ácida - enriquecida de CO² - o que provocou fenómenos de carsificação - conjunto de processos baseados na infiltração da água e na dissolução que esta provoca sobre as rochas - que alargaram e aprofundaram as fraturas.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Refugio dos Homens Livres



A exploração do mundo Subterrâneo e o seu conhecimento constituem uma aventura sem fim.
A gruta é o último refúgio dos homens livres. Constitui o único sítio onde podemos voltar às origens e escapar, durante algumas horas, ao mundo moderno, constrangedor, condicionado e cheio de algazarra.
... Tudo está ordenado, o homem torna-se um robot; os seus actos são organizados, previstos. Já não há iniciativa, personalidade. A última raça de homens que gosta de pensar em silêncio, estará em vias de desaparecimento?

- Michel Bouillon, 1972-

terça-feira, 20 de maio de 2014

Património Subterrâneo da Arrábida Oriental XII

Algar das Aranhas
 
Planta e Perfil
 
A Cavidade localiza-se junto à EN 379-1, ao quilómetro 13.4, sobre o lado norte e à cota de 348m. É uma cavidade do tipo algar - de desenvolvimento predominantemente vertical - que ocupa uma área estimada de 35m², possuindo um desnível máximo em relação à cota de entrada de -14,80m. Tem um desenvolvimento estimado, em projeção horizontal, de 14m segundo a orientação S-N. Geologicamente encontra-se sob rochas sedimentares do Jurássico - J²p, com aproximadamente 150 Ma.  (Manuppella et al, 1999).
 
A sua génese parece ter resultado, primeiramente, de fenómenos tectónicos que geraram uma grande quantidade de falhas e outras fraturas geológicas. Os agentes geomorfológicos terão moldado o exocarso (superfície) gerando condições para que as águas pluviais se pudessem infiltrar na principal fratura que a gruta ocupa. Por sua vez, o húmus proveniente do coberto vegetal e os períodos frios que a serra atravessou terão constituído fatores para que a água que atingiu o endocarso (interior) aí chegasse enriquecida de CO², suficientemente ácida para provocar fenómenos de carsificação - conjunto de processos baseados na infiltração da água e na dissolução que esta provoca sobre as rochas - que alargaram e aprofundaram as fraturas que o algar ocupa.

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Património Subterrâneo da Arrábida Oriental XI

Lapa de Alpertuche 
Planta e Cortes

A Lapa situa-se ao nível do oceano e tem um desnível máximo em relação à cota de entrada de +3,00m, ocupa uma área com cerca 297m² e o seu desenvolvimento principal estimado, em projeção horizontal, é de 33m segundo as orientações SW-NW. Geologicamente assenta sob Biocalcarenitos Miocénicos com idades aproximadas de 15 Ma.
 
A sua génese terá emanado de dois fenómenos diferentes e sobrepostos. O primeiro é referente à carsificação - conjunto de processos baseados na infiltração da água e na dissolução que esta provoca sobre as rochas - que resultou no alargamento da fratura principal. O segundo está intimamente ligado a manifestações das fases de evolução da dinâmica litoral, ocorridas durante o período glaciar Würm - iniciado há cerca de 110 000 anos e terminado há cerca de 10 000 anos (PAIS, J.; LAGOINHA, P., 2000).  A ação de transgressão marinha terá, devido às ações químicas e mecânicas exercidas pelo mar, resultado no entalhamento basal sobre uma junta de estratificação alargando-a.

quinta-feira, 8 de maio de 2014


No Cabo Espichel; Gruta da Grande Falha

...ou Furna dos Segredos

 
A Gruta da Grande Falha ou Furna dos Segredos corresponde ao processo mais clássico de formação de grutas marinhas – formam-se em zonas de arriba onde a acção erosiva/abrasiva do mar vai desgastando os estratos (camadas) geológicos mais brandos e com menos resistência à erosão.
 
Trata-se de uma caverna de origem em processos agrupados em marinhos cársicos, graviclásticos e de biocenose (Crispim et all, 2001). Todos estes processos actuaram ao longo do tempo em fases distintas e noutras em simultâneo, à medida que se foram dando enormes variações na linha de costa – transgressões e regressões do nível do mar nos períodos glaciares e interglaciares.

terça-feira, 6 de maio de 2014

Património Subterrâneo da Arrábida Oriental X

Gruta das Feiticeiras ou Lapa dos Morcegos


Planta e Cortes

A Cavidade situa-se à direita da EN 379-1, que vai de Outão para o Portinho da Arrábida, à cota de 44m. Possui uma ampla entrada orientada para Este e ocupa uma área aproximada de 320m² sendo o seu desenvolvimento principal estimado de 54m, segundo as orientações E-W e S-N. O seu desnível máximo em relação à cota de entrada é de -8,76m, desenvolvendo-se geologicamente sob rochas sedimentares do Jurássico - J²p, com aproximadamente 150 Ma. (Manuppella et al, 1999).

A  sua génese poderá ter resultado da estrutura intensamente fraturada e cortada por uma grande quantidade de falhas que definem uma estrutura em dominó - o anticlinal do Formosinho (Manuppella et al, 1999). Devido à tectónica, o afastamento de dois estratos terá criado um amplo espaço que se prolonga por cerca de 40m. Posteriormente, a carsificação terá atuado na dissolução das rochas alargando uma série de outras fraturas que acabaram por compor todo o conjunto cavernícola.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

No Cabo Espichel

...onde os Deuses se reúnem todas as noites

 


“Já durante a denominação romana, no Cabo Espichel, a que chamavam Promontório Sagrado (Sacrum Promontorium) se formou a lenda de que os deuses se reuniam ali, em concilio, todas as noites. A ele concorria Neptuno com os seus filhos, os Tritões. O local das assembleias era uma gruta, que, quando o mar embravecido a invade com fúria, emite roncos tão horrendamente sonoros que os antigos a conheciam pela “Ronca” e os hodiernos pelo «Bifa» ”.

(Rumina, J. Preto – Estudos Históricos e Outros Escritos, C. M. Sesimbra, Sesimbra, 2006).

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Património Subterrâneo da Arrábida Oriental IX

Lapa da Greta ou das Conchas
 
 Planta e Cortes
 
A gruta, inacessível por terra, apenas possui uma entrada exposta ao oceano e desenvolve-se sob Biocalcarenitos miocénicos com idades aproximadas de 15 Ma (M. T. Antunes, 1991). Ocupa uma área estimada de 126m² e tem um desnível, em relação ao nível médio das águas do mar, de cerca de + 7,00m. O seu desenvolvimento principal estimado, em projeção horizontal, é de 42m segundo a orientação SE-NW.
A sua génese, tal como as restantes cavernas que compõem o complexo cavernícola localizado entre a praia de Alpertuche e o Portinho da Arrábida, está intimamente ligada à acção de transgressão e regressão marinha ocorrida, provavelmente, durante o período glaciar Würm, iniciado há cerca de 110000 anos. Estes eventos terão, devido às acções químicas e mecânicas exercidas pelo mar, conjugada com a evolução cársica, alargado as fraturas, o que resultou na abertura e alargamento de uma contínua galeria que compõe de grosso modo o espaço subterrâneo existente.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Património Subterrâneo da Arrábida Oriental VIII

Algar dos Badalos
 
   Planta e Cortes
 
O algar dos Badalos situa-se a cerca de 342m de altitude, no topo do monte Abraão, sobre a vertente Oeste, a cerca de 200m das “icónicas” três cruzes aí existentes. Trata-se de uma cavidade vertical que se desenvolve sob rochas sedimentares do Jurássico J1-2CL, com aproximadamente 160 Ma (Manuppella et al, 1999). Ocupa uma área estimada de 60m² e tem um desnível máximo de -15,00m. O seu desenvolvimento principal estimado, em projeção horizontal, é de 30m segundo a orientação S-N.
 
Trata-se de uma cavidade vertical, do tipo algar, que tem a sua génese muito condicionada pela tectónica e pela fracturação a ela associada. Neste sentido, as águas pluviais, aproveitando os acidentes tectónicos, rapidamente se infiltram para o interior do maciço exercendo aí enorme influência na dissolução da rocha exposta.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

A Gruta do Zambujal

... e as nuvens da memória colectiva.

Planta e Perfis

Descoberta a 18 de Junho de 1979 na frente de lavra da pedreira Tecnobrita, levou ao embargo da exploração da pedra, devido à intervenção do Presidente da Câmara de Sesimbra, Ezequiel Lino. Foram colocados guardas junto às entradas e pedidos pareceres a geólogos (Profs. Georges Zbyzewski e Veiga Ferreira) e à Associação Portuguesa de Investigação Espeleológica. Com base nesses pareceres, foi decretado sítio classificado de interesse espeleológico, pelo Decreto-Lei 140/79 de 21 de Maio.

 No local, procedeu-se entretanto ao encerramento, com grades de ferro, das duas aberturas conhecidas. Para evitar trepidações nas áreas próximas, a Tecnobrita recebeu, por troca, uns terrenos na Serra da Achada, próximo do Calhariz.

 Posteriormente, uma das grades de uma entrada é destruída, o que permite alguns actos esporádicos de vandalismo, especialmente na sala superior. Entre Setembro e Novembro de 94 a exploração de pedra que avançava por Sudeste do local, causa (devido à utilização de cargas explosivas) danos graves na Gruta, originando grandes fendas e fissuras longitudinais e transversais que fazem desabar parte do tecto da sala superior.

Em 1998 é constituída a Sociedade Grutas Senhora do Cabo cujo capital social (5 mil contos), é detido em 30% pela Câmara de Sesimbra, 30% pela Tecnobrita e, 40% pela Proporção.

A SGSC candidata-se com um projecto ao SIFT, a fundo perdido, do Fundo do Turismo, uma verba próxima dos 250 mil contos. Em Janeiro de 1993 o Sr. José Galo adquire os terrenos à Tecnobrita e os respectivos 30% do capital social da SGSC, pelo valor de 125 mil contos. Durante 1993 o Sr. José Galo adquire os 40% detidos pela Proporção, ficando assim com 70% do capital social da SGSC contra os 30% da Câmara de Sesimbra. É criada entretanto a Jovigruta a quem o Sr. José Galo cede o total da sua participação no capital social da SGSC. De salientar que a Jovigruta, é constituída pela mulher, filhas do Sr. José Galo, genro e pelo próprio. A SGSC nunca fez nada de visível no local, e é constituída maioritariamente por outra empresa que pertence na totalidade aos familiares da mesma pessoa que detém a exploração das pedreiras.

domingo, 20 de abril de 2014

Não Tardará....

 
Gruta da Utopia
Para ser espeleólogo é preciso ter uma certa personalidade, o que muitas vezes torna difíceis as relações entre indivíduos ou grupos de indivíduos, que, no entanto, são animados de um mesmo ideal, de um mesmo desejo. Os grupos espeleológicos são muitas vezes competidores- quantas bulhas por um buraco! Dão-se guerras entre «tribos», guerras esgotantes e ridículas, que se saldam apenas em prejuízo da espeleologia.

A boa harmonia é indispensável. Não falo de uma harmonia oficial, baseada em regulamentos, arbitragens de uma federação qualquer, mas de um acordo cortês entre homens que prosseguem o mesmo objectivo, amam e respeitam as mesmas coisas. Respeitando as grutas, respeitam-se os colegas e salva-se a espeleologia.

Dos organismos privados, os poderes públicos só esperam uma coisa: que a anarquia domine a espeleologia. Que a pilhagem e a destruição das cavernas se agravem ainda mais.

Numerosas grutas foram já encerradas. As reservas estão agora em moda. Cada qual apressa-se a encontrar um pretexto para proibir a entrada na sua gruta: reserva biológica, gruta sob protecção oficial, reserva cristalográfica, pré-histórica, climática (enfim, uma infinidade de pretextos).

Não tardará que estas reservas estejam fechadas aos espeleólogos porque a maioria das grutas nestas condições são reservadas por pessoas que não têm nenhuma atracção pela espeleologia, nenhum amor pela gruta, mas têm, em compensação, interesses pessoais a salvaguardar.

 (Bouillon, Michel- Descoberta do Mundo Subterrâneo, Livros do Brasil, Lisboa, 1972).

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Descrição e Localização Geral das Cavidades da Arrábida Oriental

 

Distribuição Geral das Cavidades
 
De um modo geral, as grutas que compõem a porção territorial do Concelho de Setúbal, concretamente a parte meridional da Arrábida Oriental, são de pequenas dimensões, mas variadas. São aqui descritas todas as cavidades naturais penetráveis pelo ser humano, exceptuando abrigos, independentemente do seu desenvolvimento, que contenham o mínimo de informação que possibilite uma avaliação do seu destaque patrimonial no contexto local.
De todas as Cavidades, sete eram já existentes, oito são revelações e outras oito são inéditas. No que diz respeito ao património de interesse arqueológico que cada uma contém, é de referir que das vinte e duas, dez apresentam indícios de presença pré-histórica. Há ainda a salientar que, na maior parte, o património cavernícola encontra-se instalado e desenvolve-se sob duas principais unidades carbonatadas: em calcários do Jurássico - J²p e em Biocalcarenitos Miocénicos - MAz.
 

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Património Subterrâneo da Arrábida Oriental VII

Gruta da Fenda do Bom Jesus da Arrábida

  Gruta diz respeito a um conjunto de fendas com orientação SW-NE, e que são, na sua generalidade, estreitas e altas desenvolvendo-se ao longo de poucos metros. Situa-se à cota de 314m desenvolvendo-se sob rochas sedimentares do Jurássico J1-2CL, com aproximadamente 160 Ma. (Manuppella et al, 1999). Ocupa uma área estimada de 150m² e tem um desnível máximo em relação à cota de entrada de -6,00m, sendo o seu desenvolvimento principal estimado, em projeção horizontal de 37m, segundo a orientação de NE-SW e SW-NE.


 Planta e Perfis 

   A sua génese estará associada ao anticlinal do Formosinho; uma estrutura intensamente fraturada, cortada por grande quantidade de falhas que definem uma estrutura em dominó (Kullberg et al, 2000). Admitindo a origem tectónica da cavidade em que por certo o fenómeno tectónico atrás descrito terá contribuído e sido determinante para a sua abertura, posteriormente a carsificação - que se deu e dá através das águas pluviais ricas em CO² - alargou-a através da dissolução e corrosão exercida sobre as rochas.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Património Subterrâneo da Arrábida Oriental VI

 
Gruta da Figueira Brava
 
A gruta, que possui uma ampla entrada sobre o oceano, tem um desnível máximo em relação ao nível médio das águas do mar de + 11,00m, ocupando uma área de cerca de 748m². O seu desenvolvimento principal estimado, em projeção horizontal, é de 74m segundo as orientações SE-NW e W-E. Geologicamente assenta sob Biocalcarenitos miocénicos com idades aproximadas de 15 Ma. (Manuppella et al., 1999).
 
Gruta da Figueira Brava; planta, perfis e cortes.
 
A sua génese terá emanado de dois fenómenos diferentes e sobrepostos. O primeiro é referente à carsificação - conjunto de processos baseados na infiltração da água e na dissolução que esta provoca sobre as rochas -, que resultou no alargamento das fraturas principais (M. T. Antunes, 1991). O segundo está intimamente ligado a manifestações das fases de evolução da dinâmica litoral, ocorridas durante o período glaciar Würm - iniciado há cerca de 110 000 anos e terminado há cerca de 10 000 anos (PAIS, J.; LAGOINHA, P., 2000). A ação de transgressão marinha terá, devido às ações químicas e mecânicas exercidas pelo mar, resultado no entalhamento basal sobre uma grande diáclase que percorre o maciço rochoso, alargando-a.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Património Subterrâneo da Arrábida Oriental V

 Gruta do Médico

A Gruta do Médico situa-se a cerca de 187m de altitude desenvolvendo-se sob rochas sedimentares do Jurássico - J²p, com aproximadamente 150 Ma (Manuppella et al, 1999). Ocupa uma área estimada de 174m² e tem um desnível de -21,00m. O seu desenvolvimento principal estimado, em projeção horizontal, é de 71m segundo a orientação SW-NE e NE-SW.

Planta

A sua génese parece ter sido muito condicionada pela tectónica e pela fracturação a ela associada. A cavidade, de perfil semivertical, abre-se ao longo do bordo de uma escarpa de falha que é intersetada por várias diáclases (Manuppella et al, 1999). A sua evolução em profundidade (endocarso) estará por certo intimamente relacionada com as águas pluviais, coberto vegetal e manta morta que fez elevar os níveis de CO², aumentando a acidez determinante para a dissolução da rocha calcária e concorrendo para o alargamento das fraturas presentes.
 
Perfil Desdobrado
 
 Não menos importante é o facto da gruta se situar a uma cota inferior a 220m, aspeto que pode indicar que tenha sofrido com as variações dos níveis marinhos ocorridos, durante o pliocénico, aquando da formação da zona aplanada do Cabo Espichel, período em que o mar se situou a estas altitudes (Ribeiro et al, 1987). Poderá, por isso, o mar ter contribuído para o alargamento da cavidade, uma vez que, durante a sua regressão lenta para os níveis atuais, a água doce carregada de CO² se terá depositado sobre a água salgada - devido às densidades - dissolvendo a rocha exposta e alargando as referidas fracturas.

segunda-feira, 24 de março de 2014


Grutas da Arrábida - Patrimónios que se Revelam
  A Serra da Arrábida não é propriamente uma região de grandes grutas, mas é sim uma região onde as grutas têm características de rara beleza e valor patrimonial. Ao Longo do tempo geológico, no silêncio e na imensidão da escuridão, na maior parte das suas grutas, as salas e galerias foram sendo recobertas e adornadas por formações estalagmíticas de rara beleza, e o resultado foi magnífico.
 
Gruta do Frade
 
 Mas, antes de qualquer desafio de aventura, de coragem ou de atrevimento para lhe aceder, é embrenhando-nos neste universo que verdadeiramente os nossos sentidos despertam. Por ser imensa a paisagem cavernícola da Arrábida, esta faz-nos sentir pequenos em relação ao espaço e ao tempo. Sentimos que aqui a nossa presença não passa de um mero momento, um abrir e fechar de olhos e já tudo passou. Esta paisagem, janela para o passado de momentos da história natural da região, conta-nos uma história que apenas começou e que jamais será terminada.
 
Gruta da Grande Falha
 
Estes mundos, museus da profundidade do tempo, presenciaram a chegada das primeiras comunidades humanas a este território, ainda em pleno período glaciar. O homem rapidamente se deu conta da utilização das grutas para se abrigar e proteger de outros animais, ou, presumivelmente, para realizar as suas experiências mágico-religiosas.
 
Por motivos ainda mal conhecidos, depois da chegada destes primeiros povoadores, há mais de 30 000 anos, seguiu-se um período em que aparentemente as grutas não conservaram testemunhos de actividade humana. 
 
Só mais tarde, há cerca de 7000 anos, com as primeiras comunidades de agricultores-pastores, voltamos a ter a utilização documentada das grutas. Nesta época, as populações vêm as grutas como espaço de repouso final para alguns dos seus entes queridos, existindo, inegavelmente, uma relação simbólica entre as cavidades e as crenças funerárias.
 
É a partir destas comunidades que as grutas registam uma utilização mais regular, atingindo há cerca de 4000 anos, no período da Idade do Bronze, talvez, a sua maior intensidade.
 
As comunidades da Idade do Bronze vão continuar a olhar para as grutas como espaços rituais, sendo que neste caso deixaram artefactos num longo conjunto de cavidades que parece acompanhar a linha de costa, desde a gruta mais a Ocidente, no Cabo Espichel, até à parte Oriental, no Portinho da Arrábida.
 
No final da Idade do Bronze e inícios da Idade do Ferro (séc. XI-X a.C. em torno de 1000 a.C.), as populações persistiram na utilização das grutas, tendo deixado vestígios em várias cavidades.
 
Lapa da Cova
 
Dos Fenícios, há cerca de 3000 anos, está muito bem documentada a utilização da Lapa da Cova como santuário, onde foram deixados muitos artefactos.


No período romano, há cerca de 2000 anos, a utilização das grutas está mal documentada. Esta utilização efectivou-se, talvez, como abrigos, ou numa situação muito pontual.
 
Os séculos VI-VIII parecem trazer para algumas grutas da Arrábida monges anacoretas cristãos, na sua necessidade de fugir ao mundo e se aproximarem de Deus. A sua presença está bem documentada em algumas grutas do Vale das Lapas.
 
Na época Islâmica as pequenas cavidades continuaram a acolher monges muçulmanos, casos das grutas do Vale das Lapas, onde deve ter existido uma madrasa (tipo de escola), dado que na Lapa 4 de Maio foi descoberta e identificada uma tábua de madeira com um excerto da surha (texto religioso) 39 do Corão.

Lapa 4 de Maio (tábua árabe)
 
Depois da época Islâmica há a utilização das grutas por pastores, como abrigos para si e para os seus animais, tendência seguida até aos dias de hoje.
 
Nesta zona serrana, o Património subterrâneo assume características singulares no panorama nacional. Possui testemunhos magnificamente preservados; de paleo-níveis de mar (praias elevadas), de fauna, de beleza litológica e de uma contínua ocupação humana.
 
A Arrábida na sua integridade, e do ponto de vista cultural e etnográfico, pode bem assumir a metáfora de “terras do princípio do Mundo”, espelham-se neste Museu da Profundidade do Tempo que são as suas Grutas e todo o seu Património Subterrâneo.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Património Subterrâneo da Arrábida Oriental IV

Lapa Verde
 
   A gruta ocupa uma área estimada de 2640m² e tem um desnível máximo de +6,60m, encontrando-se a sua entrada principal ao nível do mar. O desenvolvimento principal estimado da cavidade, em projeção horizontal, é de 120m segundo a orientação de SW-NE.
 
Topografia e Perfis
Geologicamente assenta sob Biocalcarenitos miocénicos com idades aproximadas de 15 Ma (M. T. Antunes, 1991). A sua génese está intimamente ligada a manifestações das fases de evolução da dinâmica litoral, ocorridas durante o período glaciar Würm, iniciado há cerca de 110000 anos (PAIS, J.; LAGOINHA, P., 2000). A ação de transgressão marinha, terá, devido às ações químicas e mecânicas exercidas pelo mar, alargado fraturas que resultaram em galerias e salas. Durante esse processo, a ação escavadora do mar originou um enorme número de Algares “alcantis” (quase uma centena) que correspondem a verticalizações do entalhe basal da arriba. Os “Alcantis”, ou algares cilíndricos representam um aspeto paisagístico subterrâneo raro ou mesmo único a nível nacional.

terça-feira, 11 de março de 2014

Património Subterrâneo da Arrábida Oriental III

 Gruta do Bafo
 
 A Gruta ocupa uma área estimada de 70m² e tem um desnível de -31,00m, encontrando-se a sua entrada à cota de 71m. A sua orientação preferencial posiciona-se para SE a partir da boca de entrada e o desenvolvimento principal estimado, em projeção horizontal, é de 60m segundo as orientações de NW-SE, SE-NW e W-E. Geologicamente encontra-se sob Biocalcarenitos miocénicos com idades aproximadas de 15 Ma (M. T. Antunes, 1991).
 
Planta e Perfil Desdobrado
 
A sua génese estará associada à tectónica que originou a falha e as diáclases onde a gruta se encontra instalada e se desenvolve. Não são muito expressivos os processos de carsificação, mas o alargamento do espaço subterrâneo, em alguns pontos da gruta, parece corresponder a fenómenos ocorridos durante o período glaciar Würm - iniciado há cerca de 110 000 anos e terminado há cerca de 10 000 anos - em que os níveis marinhos sofreram fenómenos de transgressão e regressão (PAIS, J.; LAGOINHA, P., 2000), sendo por isso, exercidas ações químicas e mecânicas sobre a rocha e fraturas que as terão alargado preferencialmente em profundidade.