quarta-feira, 30 de abril de 2014

No Cabo Espichel

...onde os Deuses se reúnem todas as noites

 


“Já durante a denominação romana, no Cabo Espichel, a que chamavam Promontório Sagrado (Sacrum Promontorium) se formou a lenda de que os deuses se reuniam ali, em concilio, todas as noites. A ele concorria Neptuno com os seus filhos, os Tritões. O local das assembleias era uma gruta, que, quando o mar embravecido a invade com fúria, emite roncos tão horrendamente sonoros que os antigos a conheciam pela “Ronca” e os hodiernos pelo «Bifa» ”.

(Rumina, J. Preto – Estudos Históricos e Outros Escritos, C. M. Sesimbra, Sesimbra, 2006).

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Património Subterrâneo da Arrábida Oriental IX

Lapa da Greta ou das Conchas
 
 Planta e Cortes
 
A gruta, inacessível por terra, apenas possui uma entrada exposta ao oceano e desenvolve-se sob Biocalcarenitos miocénicos com idades aproximadas de 15 Ma (M. T. Antunes, 1991). Ocupa uma área estimada de 126m² e tem um desnível, em relação ao nível médio das águas do mar, de cerca de + 7,00m. O seu desenvolvimento principal estimado, em projeção horizontal, é de 42m segundo a orientação SE-NW.
A sua génese, tal como as restantes cavernas que compõem o complexo cavernícola localizado entre a praia de Alpertuche e o Portinho da Arrábida, está intimamente ligada à acção de transgressão e regressão marinha ocorrida, provavelmente, durante o período glaciar Würm, iniciado há cerca de 110000 anos. Estes eventos terão, devido às acções químicas e mecânicas exercidas pelo mar, conjugada com a evolução cársica, alargado as fraturas, o que resultou na abertura e alargamento de uma contínua galeria que compõe de grosso modo o espaço subterrâneo existente.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Património Subterrâneo da Arrábida Oriental VIII

Algar dos Badalos
 
   Planta e Cortes
 
O algar dos Badalos situa-se a cerca de 342m de altitude, no topo do monte Abraão, sobre a vertente Oeste, a cerca de 200m das “icónicas” três cruzes aí existentes. Trata-se de uma cavidade vertical que se desenvolve sob rochas sedimentares do Jurássico J1-2CL, com aproximadamente 160 Ma (Manuppella et al, 1999). Ocupa uma área estimada de 60m² e tem um desnível máximo de -15,00m. O seu desenvolvimento principal estimado, em projeção horizontal, é de 30m segundo a orientação S-N.
 
Trata-se de uma cavidade vertical, do tipo algar, que tem a sua génese muito condicionada pela tectónica e pela fracturação a ela associada. Neste sentido, as águas pluviais, aproveitando os acidentes tectónicos, rapidamente se infiltram para o interior do maciço exercendo aí enorme influência na dissolução da rocha exposta.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

A Gruta do Zambujal

... e as nuvens da memória colectiva.

Planta e Perfis

Descoberta a 18 de Junho de 1979 na frente de lavra da pedreira Tecnobrita, levou ao embargo da exploração da pedra, devido à intervenção do Presidente da Câmara de Sesimbra, Ezequiel Lino. Foram colocados guardas junto às entradas e pedidos pareceres a geólogos (Profs. Georges Zbyzewski e Veiga Ferreira) e à Associação Portuguesa de Investigação Espeleológica. Com base nesses pareceres, foi decretado sítio classificado de interesse espeleológico, pelo Decreto-Lei 140/79 de 21 de Maio.

 No local, procedeu-se entretanto ao encerramento, com grades de ferro, das duas aberturas conhecidas. Para evitar trepidações nas áreas próximas, a Tecnobrita recebeu, por troca, uns terrenos na Serra da Achada, próximo do Calhariz.

 Posteriormente, uma das grades de uma entrada é destruída, o que permite alguns actos esporádicos de vandalismo, especialmente na sala superior. Entre Setembro e Novembro de 94 a exploração de pedra que avançava por Sudeste do local, causa (devido à utilização de cargas explosivas) danos graves na Gruta, originando grandes fendas e fissuras longitudinais e transversais que fazem desabar parte do tecto da sala superior.

Em 1998 é constituída a Sociedade Grutas Senhora do Cabo cujo capital social (5 mil contos), é detido em 30% pela Câmara de Sesimbra, 30% pela Tecnobrita e, 40% pela Proporção.

A SGSC candidata-se com um projecto ao SIFT, a fundo perdido, do Fundo do Turismo, uma verba próxima dos 250 mil contos. Em Janeiro de 1993 o Sr. José Galo adquire os terrenos à Tecnobrita e os respectivos 30% do capital social da SGSC, pelo valor de 125 mil contos. Durante 1993 o Sr. José Galo adquire os 40% detidos pela Proporção, ficando assim com 70% do capital social da SGSC contra os 30% da Câmara de Sesimbra. É criada entretanto a Jovigruta a quem o Sr. José Galo cede o total da sua participação no capital social da SGSC. De salientar que a Jovigruta, é constituída pela mulher, filhas do Sr. José Galo, genro e pelo próprio. A SGSC nunca fez nada de visível no local, e é constituída maioritariamente por outra empresa que pertence na totalidade aos familiares da mesma pessoa que detém a exploração das pedreiras.

domingo, 20 de abril de 2014

Não Tardará....

 
Gruta da Utopia
Para ser espeleólogo é preciso ter uma certa personalidade, o que muitas vezes torna difíceis as relações entre indivíduos ou grupos de indivíduos, que, no entanto, são animados de um mesmo ideal, de um mesmo desejo. Os grupos espeleológicos são muitas vezes competidores- quantas bulhas por um buraco! Dão-se guerras entre «tribos», guerras esgotantes e ridículas, que se saldam apenas em prejuízo da espeleologia.

A boa harmonia é indispensável. Não falo de uma harmonia oficial, baseada em regulamentos, arbitragens de uma federação qualquer, mas de um acordo cortês entre homens que prosseguem o mesmo objectivo, amam e respeitam as mesmas coisas. Respeitando as grutas, respeitam-se os colegas e salva-se a espeleologia.

Dos organismos privados, os poderes públicos só esperam uma coisa: que a anarquia domine a espeleologia. Que a pilhagem e a destruição das cavernas se agravem ainda mais.

Numerosas grutas foram já encerradas. As reservas estão agora em moda. Cada qual apressa-se a encontrar um pretexto para proibir a entrada na sua gruta: reserva biológica, gruta sob protecção oficial, reserva cristalográfica, pré-histórica, climática (enfim, uma infinidade de pretextos).

Não tardará que estas reservas estejam fechadas aos espeleólogos porque a maioria das grutas nestas condições são reservadas por pessoas que não têm nenhuma atracção pela espeleologia, nenhum amor pela gruta, mas têm, em compensação, interesses pessoais a salvaguardar.

 (Bouillon, Michel- Descoberta do Mundo Subterrâneo, Livros do Brasil, Lisboa, 1972).

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Descrição e Localização Geral das Cavidades da Arrábida Oriental

 

Distribuição Geral das Cavidades
 
De um modo geral, as grutas que compõem a porção territorial do Concelho de Setúbal, concretamente a parte meridional da Arrábida Oriental, são de pequenas dimensões, mas variadas. São aqui descritas todas as cavidades naturais penetráveis pelo ser humano, exceptuando abrigos, independentemente do seu desenvolvimento, que contenham o mínimo de informação que possibilite uma avaliação do seu destaque patrimonial no contexto local.
De todas as Cavidades, sete eram já existentes, oito são revelações e outras oito são inéditas. No que diz respeito ao património de interesse arqueológico que cada uma contém, é de referir que das vinte e duas, dez apresentam indícios de presença pré-histórica. Há ainda a salientar que, na maior parte, o património cavernícola encontra-se instalado e desenvolve-se sob duas principais unidades carbonatadas: em calcários do Jurássico - J²p e em Biocalcarenitos Miocénicos - MAz.
 

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Património Subterrâneo da Arrábida Oriental VII

Gruta da Fenda do Bom Jesus da Arrábida

  Gruta diz respeito a um conjunto de fendas com orientação SW-NE, e que são, na sua generalidade, estreitas e altas desenvolvendo-se ao longo de poucos metros. Situa-se à cota de 314m desenvolvendo-se sob rochas sedimentares do Jurássico J1-2CL, com aproximadamente 160 Ma. (Manuppella et al, 1999). Ocupa uma área estimada de 150m² e tem um desnível máximo em relação à cota de entrada de -6,00m, sendo o seu desenvolvimento principal estimado, em projeção horizontal de 37m, segundo a orientação de NE-SW e SW-NE.


 Planta e Perfis 

   A sua génese estará associada ao anticlinal do Formosinho; uma estrutura intensamente fraturada, cortada por grande quantidade de falhas que definem uma estrutura em dominó (Kullberg et al, 2000). Admitindo a origem tectónica da cavidade em que por certo o fenómeno tectónico atrás descrito terá contribuído e sido determinante para a sua abertura, posteriormente a carsificação - que se deu e dá através das águas pluviais ricas em CO² - alargou-a através da dissolução e corrosão exercida sobre as rochas.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Património Subterrâneo da Arrábida Oriental VI

 
Gruta da Figueira Brava
 
A gruta, que possui uma ampla entrada sobre o oceano, tem um desnível máximo em relação ao nível médio das águas do mar de + 11,00m, ocupando uma área de cerca de 748m². O seu desenvolvimento principal estimado, em projeção horizontal, é de 74m segundo as orientações SE-NW e W-E. Geologicamente assenta sob Biocalcarenitos miocénicos com idades aproximadas de 15 Ma. (Manuppella et al., 1999).
 
Gruta da Figueira Brava; planta, perfis e cortes.
 
A sua génese terá emanado de dois fenómenos diferentes e sobrepostos. O primeiro é referente à carsificação - conjunto de processos baseados na infiltração da água e na dissolução que esta provoca sobre as rochas -, que resultou no alargamento das fraturas principais (M. T. Antunes, 1991). O segundo está intimamente ligado a manifestações das fases de evolução da dinâmica litoral, ocorridas durante o período glaciar Würm - iniciado há cerca de 110 000 anos e terminado há cerca de 10 000 anos (PAIS, J.; LAGOINHA, P., 2000). A ação de transgressão marinha terá, devido às ações químicas e mecânicas exercidas pelo mar, resultado no entalhamento basal sobre uma grande diáclase que percorre o maciço rochoso, alargando-a.